sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Edição nº26


Crónica

A relevância do Mar

Dentro de alguns dias comemora-se em Portugal o Dia Nacional do Mar. Para além da tradicional evocação de um passado glorioso, as comemorações dos tempos de hoje passaram a estar viradas essencialmente para o futuro. Uma das causas principais para essa mudança de sentido foi exactamente a sensibilização da opinião pública portuguesa decorrente da Exposição Mundial de Lisboa “Os Oceanos – Um património para o futuro da humanidade” realizada em 1998. Poucos anos depois, em 12 de Dezembro de 2006, o governo português elaborava a Estratégia Nacional para o Mar (ENM), que reconhece o mar como um dos principais factores de desenvolvimento do País, se devidamente explorado e salvaguardado, e relevando o facto de Portugal dispor da maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da União Europeia e de uma Plataforma Continental em vias de alargamento. Entretanto, na “Introdução” à referida ENM é salientado que as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores apresentam importantes mais-valias estratégicas e potencial desenvolvimento de actividades económicas relacionadas com o mar.


Ora, neste contexto, parece oportuno referir que entre as mais-valias dos Açores, as da ilha do Faial se apresentam particularmente relevantes. Com efeito, a própria história da ilha acaba por resultar da dupla vantagem oferecida por uma ampla e abrigada baía colocada estrategicamente no meio do Atlântico Norte.


Assim, já nos séculos XVI e XVII foi importante o papel do porto da Horta no apoio às frotas da Índia e do Brasil, apoio que depois se alargou à navegação do Atlântico Norte e já nos séculos XVIII e XIX, às próprias frotas locais que transportavam urzela, laranjas e vinho, tanto para a Europa como para as Índias Ocidentais e os Estados Unidos da América. E foi também por ser seguro que, durante o século XIX, se tornou no maior porto baleeiro do mundo, ao acolher a grande frota baleeira dos Estados Unidos da América.


Depois veio a construção da doca, dando aí melhores condições aos homens do mar e iniciou-se o ciclo do carvão, com o estabelecimento de grandes depósitos, que estiveram sempre muito activos até ao aparecimento do óleo que ditou o encerramento dos armazéns da cidade já depois da Primeira Grande Guerra.


Entretanto tinham sido amarrados nas baías da Horta e de Porto Pim cabos submarinos para ligações telegráficas entre a Europa e a América, pertencentes a companhias de nacionalidades inglesa, alemã e americana e que trouxeram ao Faial centenas de jovens operadores, uma grande parte dos quais acabou por casar e fixar-se no meio. Mais tarde, já nos anos 30, foram os excitantes anos da aviação com a competição para a Travessia do Atlântico, com escala na abrigada baía da Horta. Por aqui estiveram em ensaios porfiados a americana Pan American com os seus famosos Clippers, os alemães da Lufthansa, que usavam catapultas na descolagem dos hidros, mais os ingleses da Imperial Eagle e os franceses da Air France. Embora os alemães tivessem conseguido fazer viagens experimentais com sucesso, foram os americanos os vencedores desta extraordinária corrida e mantiveram voos normais entre 1939 e 1945, ano em que acabou a Segunda Grande Guerra.


Ao mesmo tempo, o porto da Horta, tal como já acontecera na Grande Guerra de 1914-1918, serviu de Base Naval para a Home Fleet prestando um inestimável apoio na guerra anti-submarina e, portanto, ajudando os Aliados a ganhar a guerra. Evidentemente, veio depois o declínio para o porto da Horta, que não pôde acompanhar as mudanças operadas com o fim do carvão e a opção pelos óleos, o que acabou também por causar o fecho das suas famosas oficinas de reparações navais.


Mas a seguir chegaram os grandes rebocadores holandeses da companhia L. Smit’s, que passaram a fazer base no porto, à escuta dos pedidos de socorro de navios em dificuldades no Atlântico.


Por fim, a pouco e pouco, começaram a aparecer no porto as velas de pequenos iates, que o vulgo apelidava, apropriadamente, de “aventureiros” e que neste último ano representaram perto de 1300 entradas, tornando a Marina da Horta numa das mais frequentadas a nível europeu e mesmo mundial, como marina de passagem. Toda esta preferência pelo porto da Horta representa, acima de tudo, o reconhecimento prático das suas condições estratégicas e de segurança.


Porém, a melhor prenda dos últimos anos acabou por ser a escolha da Horta para sede do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, centro de investigações reconhecido internacionalmente como excelente e por onde têm passado investigadores e estudantes de pós-graduação oriundos de todo o mundo. Hoje, com novas e amplas instalações prontas a ser inauguradas e que vêm proporcionar muito melhores condições ao seu trabalho, são de esperar outros desenvolvimentos.


É por isso que nesta comemoração do Dia nacional do Mar, mais do que a evocação do passado, devemos preparar o futuro. E parece haver razões para pensar que, como sempre, o futuro da Horta ficará intimamente ligado com o Mar.

Mário Frayão



Colaboradores:

Fotografia da Capa: Jorge Góis
Crónica: Mário Frayão
Música: Pedro Monteiro
Cinema: Aurora Ribeiro

Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia, Tomás Silva
Literatura: Ilídia Quadrado
Ciência e Ambiente: Fernando Tempera, Íris Sampaio, Pedro Ribeiro


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1 comentário:

almariada disse...

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